Há dias que matuto nisto, depois de ver um anúncio na tv sobre "vidas nobres". Quase sempre associamos a altruísmo e nobreza a imagem de filantropos que dedicam a sua vida a comunidades pobres, sobretudo em África.
Não lhes tirando o mérito - até porque nestas comunidades, as necessidades básicas não são atendidas e é preciso toda a ajuda para que as populações tenham uma vida minimamente digna -, acho, no entanto, que não é preciso ir para longe para ser útil aos outros.
Portugal enfrenta, antes de uma crise económica, uma crise de valores. E os mais vulneráveis acabam por ser "os elos mais fracos" da sociedade: crianças e idosos.
É absolutamente incrível a quantidade de notícias que nos chegam sobre negligência e maus tratos a quem, por diversas razões, se encontra dependente da família. De abusos sexuais a agressões físicas, há de tudo.
Desculpam-se com a crise, o desemprego, mas a verdade é que TODOS passamos por situações bastante adversas e nem todos agridem os filhos ou os pais.
É urgente que repensemos a nossa sociedade: materialista e hedonista. Aliás, o que está a acontecer é precisamente o resultado de se ter dado mais prioridade ao "ter" que ao "ser". E o pior disto, é que as pessoas não querem saber. Caíram num marasmo tal, que de tão "corriqueiras" estas más notícias têm por resposta a indiferença, ou, quando muito, aquela indignação inicial que desaparece logo como letras escritas em areia...
O que me leva a pensar que, em vez de irmos para longe, talvez fosse bom pensarmos que uma vida de dedicação aos outros pode muito bem acontecer aqui mesmo, nas nossas casas, com as nossas famílias.
Não faz qualquer sentido ser-se um altruísta em África quando cá se negligenciou os entes queridos. Realmente, é mais fácil darmo-nos a "estranhos" - com quem não temos, por inerência, deveres morais - do que aos familiares. E se calhar, é este o caminho a seguir: começar em casa, para depois conquistar o mundo.
É como construir uma casa: tem de se começar pelos alicerces, senão cai.
E que melhor alicerce temos que a nossa própria família?
Sem comentários:
Enviar um comentário