Diz-se que os Portugueses sofrem muito com esta doença e que a nossa típica melancolia pode ter uma causa psiquiátrica. Bom, eu não iria tão longe, mas a verdade é que o estigma associado a esta doença afasta as pessoas do diagnóstico e do tratamento.
A depressão é mais do que uma tristeza ou do que um luto, embora possa desenvolver-se a partir de uma episódio de luto (morte de um ente querido, ruptura numa relação...). Tudo tem a ver, parece-me, com a capacidade de uma pessoa lidar com estímulos desagradáveis. Por isso, há respostas diferentes para um mesmo estímulo.
A crise que atravessamos potenciou casos de depressão, porque passámos de um estado de euforia causado pelo dinheiro "fácil" do crédito para o estado depressivo de nos vermos sem forma de pagar o dinheiro pedido e entretanto já gasto. Há pessoas que reagem a esta situação tentando pôr mãos à obra para ver o que conseguem fazer para a resolver (ou tentar resolver), e outras que param, esmagadas pela desgraça da realidade. É a história de ver o copo meio cheio ou meio vazio.
É claro que ninguém faz por ficar deprimido, mas seria muito melhor se se combatesse o pensamento de que ir ao psicólogo ou psiquiatra é "para malucos". O que será melhor? Pedir ajuda ou continuar num inferno metido cabeça adentro?
A questão, claro, não é simples. Se partirmos do princípio que estamos a falar de uma doença mental - portanto, que tolhe a vontade do paciente -, só a assumpção da doença é, por si, um passo de gigante para pedir ajuda e ter acesso a um tratamento.
Portanto, se alguém tiver:
. Dificuldades sistemáticas em dormir,
. Episódios de dor física sem razão aparente (os primeiros sintomas de uma depressão, por estranho que possa parecer, são físicos)
. Muito ou pouco apetite
. Ansiedade
. Vontade de chorar sem motivo aparente
. Sensação de "não poder mais"
. Cansaço físico permanente
. Dificuldades no raciocínio e em tomar decisões
. Sentimentos de culpa infundados
. Sem vontade para nada (divertir, trabalhar, namorar, etc)
. Isolar-se ou dificuldade em estar sózinho
. Não cuidar de si (da sua alimentação, da sua higiene, etc)
. Estado de tristeza que se prolonga por mais de 6 meses
é favor que vá ao seu médico de família. Os médicos, por vezes, desvalorizam as queixas de um doente com depressão e passam-lhes uns ansiolíticos que não só não resolvem o problema como ainda arranjam mais um, ao criar uma dependência.
Se achar que não está a ser bem atendido, piore o cenário e fale sobre pensamentos suicidas (às vezes, temos mesmo de pintar a coisa de preto para ver se os médicos abrem a pestana e nos ouvem de vez!) - coisa que, na verdade, também ataca os doentes depressivos (embora numa fase mais avançada e aguda da doença).
Por isso, insistir que "não é nada e que isto passa" é a pior coisa que se pode fazer! Não custa ir ao médico e mais vale prevenir que remediar (quando há remédio, o que nem sempre acontece).
Ter uma depressão não é desvalorização nenhuma. Procurar ajuda é, antes de mais, um acto de suprema inteligência.