sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Despertares

Eu e o David temos em comum o início de vida menos bom. Tanto eu, como ele, tivemos de ficar internados durante dias no hospital, fazendo exames, estando sob vigilância apertada.



Quando nasci, a minha mãe ainda me deu um pouco de colostro mas, como tinha uma deficiência que a impedia de me dar de mamar, eu tive de ser alimentada a leite artificial. O problema chegou dias depois, num biberão de leite (ou estava mal esterilizado, ou o leite não estava mesmo em condições). O resultado: uma gastroenterite quase fatal! Não retinha nada no organismo, fiquei a soro dias a fio, emagreci ao ponto de pesar apenas 1 kg (se tanto).



Na crueza daqueles tempos, deram-me alta para, segundo o que os meus pais, eles se despedirem de mim em casa. Ninguém dava nada por uma bebé que tinha perdido grande parte do seu peso e continuava a não reter nada.



Até ao dia em que um pediatra receitou "a derradeira hipótese" para a minha sobrevivência: um leite também especial para casos como o meu (já tinha experimentado todos, menos aquele. Se não o aceitasse, morria). Rezando e implorando aos Céus, foi com uma alegria transbordante que os meus pais me viram a beber o leite sem o rejeitar. Foi o primeiro dia do resto da minha vida. Desde então, nunca mais parei!






E com o David, as coisas, embora tendo em comum o internamento, não foram tão graves. Mas chegaram para nos deixar a todos muito aflitos - pior que uma má certeza, é uma dúvida.



Ao 4º dia de vida, estando ele a receber tratamento de luzes contra a icterícia num daqueles berços especiais, ele tremeu apenas de um dos lados do corpo dando a entender que estava a sofrer uma convulsão. Estranhando aquela reacção, chamei uma enfermeira que pediu logo a assistência de um pediatra.



Mediante a nossa descrição, a pediatra resolve internar o David imediatamente nos Cuidados Especiais. Foram nove dias de exames, análises ao sangue diárias, uma punção lombar, colocação de algália (o que ele sofreu!), ecografia cardíaca, ecografia transfontanelar, EEG, etc,etc,etc...para vir para casa sem um diagnóstico. Não lhe encontraram nada que pudesse justificar aquele episódio.



Tem andado a ser seguido ainda no Hospital Amadora-Sintra, e até agora, exceptuando o facto de ele ser muito "trapalhão" a andar (parece que vai sempre cair), nunca mais teve qualquer problema.




Tudo isto para dizer que muitas vezes o começo atribulado da vida pode não ser sinónimo de uma vida de sofrimento físico. Comigo, em 33 (quase 34) anos, nunca mais houve nada. Com o David, espero que também não haja.



Ironia das ironias: de nós os quatro (eu, os meus pais e o meu irmão), fui eu quem passou o pior bocado à nascença e sou a que, hoje, não tem qualquer deficiência ou maleita.

1 comentário:

  1. Bem...tens tido uma vida! :(
    Muita coragem para seguir em frente!
    Deus te ajude!
    Bj

    ResponderEliminar