sexta-feira, 29 de junho de 2012

Três anos depois

Já contei que o David, quatro dias depois de ter nascido, e enquanto estava a fazer um tratamento contra a icterícia, teve um episódio sugestivo de convulsão testemunhado por mim e por uma enfermeira que, nessa altura, fazia a ronda pelos quartos.
Ele estava deitado de bruços e tremeu apenas de um dos lados! Assustei-me, chamei a enfermeira que, tendo visto mesmo, chamou logo a pediatra da Unidade de Cuidados Especiais Neonatais que o internou de imediato!
Foram nove dias. Nove dias de recolhas diárias de sangue, electroencefalograma, ecocardiografia, punção lombar, ecografia transfontanelar, algaliação, fios e máquinas com "bips" irritantes a toda a hora, etc, etc, etc.
Nove dias em que chorei muito, em que me agarrei ao meu senhor, em que travei conhecimento com outros pais cujos filhos também ali estavam, muitos deles havia meses!!!!!
Nove dias em que conheci de perto a realidade e o sofrimento por que passam os prematuros e os seus pais, mas também a fibra de que são feitos aqueles verdadeiros GUERREIROS!
Nove dias em que entrava às 8:30 naquela Unidade e só saía às 22:30, em que o meu ritmo era pautado pelo ritmo das refeições do meu filho, em que adormecia com ele ao colo, sentada no cadeirão da amamentação...
Nove dias em que me apercebi que o meu bebé era alguém muito forte e especial.
Nove dias que ontem tiveram o seu desfecho com a última consulta de acompanhamento no Hospital.
Segundo a médica, ele está a desenvolver-se bem, pelo que não necessita de mais consultas ali.
Pediu-me para esquecer aqueles nove dias, que já passaram e que foram apenas um acaso sem grande importância. Mas eu não os posso esquecer, pois foi ali que me apercebi que é na dificuldade (e agora na perspectiva de mãe, que já tinha a de filha) que percebemos o quanto podemos ir ao fim do Mundo pelos nossos filhos!
Pude ter a oportunidade de viver aquilo que, 31 anos antes, os meus pais tinham vivido comigo (sendo que, no meu caso, eles até já estavam avisados para a minha "morte iminente", portanto, muito pior).
Não só agradeço a Deus por isso, mas sobretudo por, até agora, não haver nada de errado com a saúde do meu bebé.

1 comentário: